No final de 2013 estive em Buenos Aires, depois de muitos anos sem visitar a cidade. Achei bem curioso como o ‘olhar a cidade’ mudou desde a última visita. Quando estive por lá em 2007, já cursava a faculdade de arquitetura, mas trabalhava há pouco tempo então acho que ainda tinha uma ideia meio fantasiosa da ‘vida real’. Agora, já com 5 anos de formada, senti que reparava em coisas bem diferentes das que eu via uns anos atrás. Vou fazer uma série de posts contando sobre alguns passeios e assuntos relacionados a arquitetura que eu vivi por lá.
O primeiro passeio que fizemos ao chegar a Buenos Aires foi a visita guiada ao Teatro Colón. Eu já havia estado na cidade por 2 vezes e em ambas o teatro estava fechado para restauração. Dessa vez a primeira coisa que eu descobri foi que eu não havia tido tanto azar assim, é que o processo todo do restauro durou mais de 5 anos.
a entrada do Teatro, pela praça.
A visita é guiada e pode ser em inglês ou espanhol, você escolhe na compra do ingresso e não há diferença de preço. Você inicia o trajeto pela entrada do teatro, por onde antigamente entravam as pessoas das classes mais abastadas. Um salão muito bonito, com tapete vermelho e uma escada toda detalhada em mármore. Grandes colunas, um pé direito triplo de onde se pode ver os balcões e o domus da cobertura com um lindo vitral.
Escadaria de entrada
Há uma pequena exposição com alguns figurinos que foram usadas nas produções originais da casa. Lá, há espetáculos de dança, teatro e apresentações musicais. Toda a produção dos cenários e roupas usadas nas apresentações é feita no próprio teatro. No subsolo há áreas específicas com ateliês para cursos profissionalizantes e para a produção de tudo que for necessário para compor as apresentações do Teatro.
A visita segue para o corredor onde acontecem os intervalos das apresentações. O corredor não é muito largo (considerando-se a quantidade de gente que cabe no teatro) mas é muito iluminado por vitrais e lustres originais do prédio. Há uma estátua da Vênus com seu filho lhe contando um segredo. A estátua é todinha em mármore e perdeu um dedo no transporte da Europa até aqui. Para não haver diferença na tonalidade da pedra, optaram por não restaurá-la.
O segredo
Seguimos mais um pouco e entramos no corredor que dá acesso aos camarotes. Aqui foi tudo muito rápido e infelizmente não tirei fotos. O corredor deve ter no máximo 2m de largura, com muitas portas em ambos os lados. Nenhuma porta é muito larga e as que dão acesso aos camarotes são sempre portas duplas, porém estreitas. Opostas aos camarotes estão as áreas técnicas, salas de apoio e sanitários. Cada salinha é identificada com placas bem pequenas e antigas, nada de braile, luminoso, alto relevo… tudo combinando com a arquitetura do prédio.
O camarote que entramos tem uma das vistas mais prejudicadas do palco, ele fica no 1º nível dos camarotes, bem ao lado do palco, colado na cortina. É o camarote dos presidentes(as). A localização foi escolhida para a pessoa ser vista pelo público e não necessariamente ver o espetáculo. A sala tem algumas poucas cadeiras, todas de madeira e com assento estofado em camurça. O guarda-corpo é baixo e também com um acabamento em tecido. Para fechá-lo ao público tem cortinas na cor vinho para combinar com o restante da decoração.
Camarotes
A vista de lá é simplesmente fantástica. Eu não tinha ideia do tamanho do teatro e acho que mesmo olhando de fora, não dá pra imaginar quantas pessoas cabem ali (2.487 pessoas). Tem plateia, camarotes e uma área que em 1900 era destinada às viúvas. Elas deveriam manter o luto por 1 ou 2 anos e durante esse período não podiam ser vistas em público, por isso iam a opera nas salas especiais onde somente ouviam as apresentações, pois a sala é fechada com uma treliça de madeira. Essas salas ficam na lateral da plateia, no mesmo nível das cadeiras.
A visita termina com os turistas sentados nas primeiras fileiras da plateia, todos boquiabertos. Dá pra se sentir uma formiga, dado o tamanho do teatro. Dali se observa toda a riqueza de detalhes da arquitetura do prédio. Você fica até ligeiramente perdido, sem saber por onde começar a olhar. Um dos pontos que mais chama a atenção, é a cúpula do teatro, com um imenso lustre e uma pintura circulando toda a iluminação. A pintura que hoje se encontra no teatro não é a original da primeira construção, pois essa se deteriorou nos anos 30 e foi substituída.
Escondido entre a pintura e o lustre, encontra-se um corredor para alguns membros da orquestra. É impossível perceber a existência dele, olhando-se da plateia mas é dali que saem alguns efeitos especiais para as apresentações, como por exemplo, o som de um trovão, vindo diretamente do alto do teatro.
Para garantir a boa qualidade acústica do teatro foram utilizados apenas materiais de qualidade; nos camarotes mais baixos os acabamentos são em materiais absorventes e nos mais altos em materiais rígidos, para adequar a acústica do espaço que é considerado um dos 5 melhores teatros do mundo quando o quesito é acústica.
Platéias superiores
O teatro fica na Av. 9 de Julho porém sua entrada mais majestosa fica na Praça General Lavalle. É possível chegar facilmente de ônibus ou metrô e mais informações sobre as visitas você encontra no próprio site do Teatro. Não é um passeio barato, mas achei que a visita valeu cada centavo!
Visitas guiadas: http://www.teatrocolon.org.ar/pt/visitas-guiadas-pt
Um pouco mais de história: http://www.teatrocolon.org.ar/pt/historia-pt