Projetando conforme a maré

26 Ago

Outro conto da época da faculdade.

Acho que quase todo estudante de arquitetura já passou pela cena de ouvir de algum professor que os edifícios residenciais construídos nos últimos 10 ou 20 anos e que seguem o estilo neoclássico são um crime para a arquitetura da cidade. Ouvi muito isso de professores com formação modernista, com formas retas, puras, ou até com projetos inovadores mas que buscavam sempre uma arquitetura diferente do que já foi feito, nunca repetir ideias e conceitos antigos.

Professores diziam que não deveríamos nunca nos render a esse tipo de cliente e aceitarmos fazer um projeto assim. Lembro de pensar, sem coragem de dizer em voz alta, que se eu precisasse aceitar um projeto assim pra pagar as contas do mês, não via problema algum em aceitar.

Entendo que a fachada seja o chamariz de muitos projetos, que ela seja o cartão de visita do prédio e muitas vezes torna-se um referencial no bairro. Mas adianta fazer um prédio divino por fora e completamente inútil por dentro?

Alguns professores estavam tão preocupados em nos assustar com esses conceitos que se esqueciam de nos ensinar a projetar algo que o cliente/usuário fosse de fato aproveitar.

Uma pena que a gente só adquira esse discernimento depois de um tempo….

 

Das duvidas e certezas da profissão

21 Jan

Pouco mais de 2 anos depois do último post, continuo arquiteta e trabalhando na mesma empresa. Dois feitos impressionante considerando-se a crise no país e mais ainda a atual e duradoura crise do mercado imobiliário.

Hoje me peguei pensando em algumas questões que me ocorriam logo que entrei na faculdade. Fiz faculdade particular e cursei o mesmo curso e na mesma universidade do começo ao fim. Prestei vestibular apenas 1 vez e apenas em 3 faculdades diferentes. Prestei o mesmo curso nas 3 faculdades. Me formei nos 5 anos regulares do curso sem nenhuma DP. Não sei se existem estatísticas para essas coisas mas sei que sou um ponto bem fora da curva. 

Na minha faculdade entravam a cada semestre 200 novos aspirantes a vida de arquiteto, que seriam divididos em 4 turmas de 50 alunos conforme as notas do vestibular. E isso só em 1 faculdade de SP. Quantas faculdades de arquitetura tem em SP? Desses 200, muitos já haviam tentado vestibular mais de uma vez, alguns haviam prestado cursos diferentes e as vezes nada parecidos em cada vestibular. Alguns poucos, eu me lembro bem, estavam ali porque o pai sempre sonhou em ter um filho arquiteto. 

Ao longo do curso, a minha turma de 50 foi reduzida a 24 alunos. Na minha turma, estavam teoricamente os 50 alunos com as notas mais altas nas provas de conhecimentos gerais do vestibular daquele semestre. Mais da metade dessas melhores notas desistiu do curso. E não foram desistências porque o valor do curso era muito alto ou por que não conseguiam acompanhar as matérias.  Lembro de colegas que saíram pra ir cursar design gráfico, moda, direito, educação física, engenharia, alguns cursos completamente diferentes de arquitetura.
Esses colegas acharam que sabiam o que queriam da vida no momento do vestibular. Esses colegas resolveram mudar. Dos colegas formados comigo após os 5 anos de luta, hoje em dia todos já pensaram pelo menos 1 vez ( ao mês) em mudar. E continuaremos pensando.

Minha passagem “redondinha” pela faculdade não é, nem de longe, sinal de certeza. Atualmente, ninguém tem certeza. Ter certeza nem me parece tão bacana assim. A incerteza nos move.

ARQ-BUE #2 – A Casa Rosada

14 Jan

Nosso segundo passeio cultural da viagem foi pela Praça de Maio. O local é um dos grandes palcos de manifestações políticas da cidade, que não são poucas nem raras. A praça recebeu este nome, em homenagem a Revolução de 1810, quando se iniciou o processo de independência das colônias espanholas da América do Sul. A praça é cercada por prédios de grande importância histórica para a cidade como a Catedral Metropolitana, o Cabildo, o Banco de La Nación e a Casa Rosada. Da praça também parte a Avenida de Maio que tem em sua ponta oposta a Praça do Congresso e o Congresso Nacional.

O Obelisco no centro da praça foi construído um ano após a Revolução, porém ainda ficava na Praça da Vitória e era conhecido como ‘Pirâmide de Maio’. Passou por algumas reformas e acréscimo de esculturas e detalhes e somente em 1912 foi transferido para o centro da Praça de Maio.

O Obelisco e a praça

O Obelisco e a praça

Em Dezembro/2013, em frente ao congresso via-se um pequeno acampamento de manifestantes, com faixas contra a Monsanto e na Praça de Maio os já tradicionais manifestantes com faixas exigindo justiça aos desaparecidos durante a época das Revoluções. Ali frequentemente se vê as conhecidas ‘mães da praça de Maio’ com fotos dos seus filhos desaparecidos durante a ditadura do país.

De todos os prédios que cercam a praça, o que mais chama a atenção definitivamente é a Casa Rosada. E não é só pelo fato dela ser cor-de-rosa enquanto o restante é dos prédios é bege/cinza/marrom/cor de sujeira. Ali é a sede da presidência e o Museu da Casa do Governo. Há várias lendas sobre a explicação da cor usada na fachada, muitos dizem que são todas lendas mesmo. Uma delas conta que na época da pintura inicial haviam dois partidos políticos na cidade, um usava a cor vermelha, o outro a cor branca e misturadas saiu a ideia do rosa. A ideia talvez menos fantasiosa e mais aceita tem a ver com a química das tintas usada na época e que essa pigmentação rosa seria a mais adequada ao clima e ao custo da época.

O projeto original não é o que vemos hoje na praça. O prédio já abrigou uma alfândega, um forte e a sede dos correios e foi bastante modificado ao longo das suas ocupações. Há duas provas dessas mudanças todas que são bem evidentes no edifício, porém pouquíssimo notadas por quem passa por ali. A primeira prova de que o prédio teve uma construção feita em etapas é que ele não é simétrico. Não quero dizer que todo prédio assimétrico foi construído em etapas, mas neste caso é perceptível que o arco utilizado como acesso principal dos turistas foi criado para unir dois prédios distintos. Reparem que eu disse acesso dos turistas; isso porque há outros acessos no prédio que são usados por quem trabalha ali e não está só a passeio. Ou você achou que a presidenta ia entrar pela mesma porta que você e passar pelo detector de metais?

A segunda evidência também está na fachada mas confesso que eu fiquei bem espantada e quando saímos do tour fui lá conferir pra ver se era verdade. Como o edifício foi construído em períodos diferentes e por arquitetos diferentes, ele tem características arquitetônicas distintas de cada lado do pórtico. De um lado os adornos do prédio seguem a escola francesa enquanto do outro seguem a escola italiana. Coisas que só um arquiteto muito observador ou um grande fã da Casa Rosada iriam perceber.

Fachada rosada

Fachada rosada

É possível visitar a Casa Rosada e as visitas são gratuitas. Nós passamos pelo raio-x das mochilas e pelo detector de metais e chegamos no Museu da Casa do Governo com retratos de figuras históricas de diferentes países, todos doados à Argentina. Tem até uma pintura do Tiradentes por ali. No final dessa sala ficam os guias de visitação, você diz quantas pessoas tem seu grupo e eles te dão senhas para a próxima visita guiada disponível. A nossa demorou uns 15 minutos pra começar e tinha cerca de 50/60 pessoas no grupo.

A simpática guia, nos leva pra dar uma volta pelas salas do palácio. Algumas são apenas salas pra visitação, outras são ambientes de trabalho de verdade. Como visitamos no período de férias, não sei se todas essas áreas ficam disponíveis para visitação quando estão em expediente. Há muitas escadas pra acessar a visita, mas a guia sempre pergunta se há alguém que precise do elevador (novo e moderno, nada a temer). Fiquei surpresa de como o prédio está bem conservado, considerando o estado do restante da cidade. Na maioria das salas não há ar condicionado, apenas nas salas onde os presidentes dão entrevistas ou fazem suas reuniões é que existe esse tipo de luxo. Item imprescindível no calor de 40ºC que fazia no dia do nosso passeio.

Algumas salas são temáticas, como por exemplo, o salão azul onde todos os quadros expostos foram feitos por consagrados artistas argentinos. A sala usada para videoconferências, (com ar geladinho, uma delícia!) é dedicada às mulheres que tiveram participação marcante na história do país, como Evita Perón e as ‘mães da praça de maio’. As imagens são todas em preto e branco, dando um clima mais dramático à sala, é bem interessante.

Salão azul

Salão azul

Salão das mulheres

Salão das mulheres

Numa das alas do palácio começa uma exposição de fotos de argentinos famosos, porém a grande maioria é desconhecida para os turistas. Tem cantores, atores, jornalistas, personagens de desenhos animados, a Mafalda; são muitas fotos, mas geralmente é apenas uma de cada pessoa. Enquanto a guia começa a explicar, surge uma inquietação no grupo “cadê o Maradona?”. A guia ri e nos pede pra seguir no corredor a direita e aí encontramos quase que um corredor inteiro só dedicado a ele, com fotos de todas as épocas da sua carreira.

A visita termina nos mostrando um presente do governo espanhol para o governo argentino. Um elevador todo revestido em madeira, com um banco estofado que é usado exclusivamente pela presidenta. O presente é do início do século XIX e permanece em funcionamento até hoje. Não é permitido fotografar o elevador.

Piso original do terraço

Piso original do terraço

Vitral

Vitral

 

História da Praça de Maio: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pra%C3%A7a_de_Maio

História da Praça em espanhol: http://www.presidencia.gob.ar/la-casa-rosada/historia

História da Casa Rosada: http://pt.wikipedia.org/wiki/Casa_Rosada

 

 

 

 

 

 

ARQ-BUE: Uma arquiteta em Buenos Aires #1

10 Jan

No final de 2013 estive em Buenos Aires, depois de muitos anos sem visitar a cidade. Achei bem curioso como o ‘olhar a cidade’ mudou desde a última visita. Quando estive por lá em 2007, já cursava a faculdade de arquitetura, mas trabalhava há pouco tempo então acho que ainda tinha uma ideia meio fantasiosa da ‘vida real’. Agora, já com 5 anos de formada, senti que reparava em coisas bem diferentes das que eu via uns anos atrás. Vou fazer uma série de posts contando sobre alguns passeios e assuntos relacionados a arquitetura que eu vivi por lá.

O primeiro passeio que fizemos ao chegar a Buenos Aires foi a visita guiada ao Teatro Colón. Eu já havia estado na cidade por 2 vezes e em ambas o teatro estava fechado para restauração. Dessa vez a primeira coisa que eu descobri foi que eu não havia tido tanto azar assim, é que o processo todo do restauro durou mais de 5 anos.

a entrada do Teatro, pela praça.

a entrada do Teatro, pela praça.

A visita é guiada e pode ser em inglês ou espanhol, você escolhe na compra do ingresso e não há diferença de preço. Você inicia o trajeto pela entrada do teatro, por onde antigamente entravam as pessoas das classes mais abastadas. Um salão muito bonito, com tapete vermelho e uma escada toda detalhada em mármore. Grandes colunas, um pé direito triplo de onde se pode ver os balcões e o domus da cobertura com um lindo vitral.

Escararia de entrada

Escadaria de entrada

Há uma pequena exposição com alguns figurinos que foram usadas nas produções originais da casa. Lá, há espetáculos de dança, teatro e apresentações musicais. Toda a produção dos cenários e roupas usadas nas apresentações é feita no próprio teatro. No subsolo há áreas específicas com ateliês para cursos profissionalizantes e para a produção de tudo que for necessário para compor as apresentações do Teatro.

A visita segue para o corredor onde acontecem os intervalos das apresentações. O corredor não é muito largo (considerando-se a quantidade de gente que cabe no teatro) mas é muito iluminado por vitrais e lustres originais do prédio. Há uma estátua da Vênus com seu filho lhe contando um segredo. A estátua é todinha em mármore e perdeu um dedo no transporte da Europa até aqui. Para não haver diferença na tonalidade da pedra, optaram por não restaurá-la.

O segredo

O segredo

Seguimos mais um pouco e entramos no corredor que dá acesso aos camarotes. Aqui foi tudo muito rápido e infelizmente não tirei fotos. O corredor deve ter no máximo 2m de largura, com muitas portas em ambos os lados. Nenhuma porta é muito larga e as que dão acesso aos camarotes são sempre portas duplas, porém estreitas. Opostas aos camarotes estão as áreas técnicas, salas de apoio e sanitários. Cada salinha é identificada com placas bem pequenas e antigas, nada de braile, luminoso, alto relevo… tudo combinando com a arquitetura do prédio.

O camarote que entramos tem uma das vistas mais prejudicadas do palco, ele fica no 1º nível dos camarotes, bem ao lado do palco, colado na cortina. É o camarote dos presidentes(as). A localização foi escolhida para a pessoa ser vista pelo público e não necessariamente ver o espetáculo. A sala tem algumas poucas cadeiras, todas de madeira e com assento estofado em camurça. O guarda-corpo é baixo e também com um acabamento em tecido. Para fechá-lo ao público tem cortinas na cor vinho para combinar com o restante da decoração.

Camarotes

Camarotes

A vista de lá é simplesmente fantástica. Eu não tinha ideia do tamanho do teatro e acho que mesmo olhando de fora, não dá pra imaginar quantas pessoas cabem ali (2.487 pessoas). Tem plateia, camarotes e uma área que em 1900 era destinada às viúvas. Elas deveriam manter o luto por 1 ou 2 anos e durante esse período não podiam ser vistas em público, por isso iam a opera nas salas especiais onde somente ouviam as apresentações, pois a sala é fechada com uma treliça de madeira. Essas salas ficam na lateral da plateia, no mesmo nível das cadeiras.

A visita termina com os turistas sentados nas primeiras fileiras da plateia, todos boquiabertos. Dá pra se sentir uma formiga, dado o tamanho do teatro. Dali se observa toda a riqueza de detalhes da arquitetura do prédio. Você fica até ligeiramente perdido, sem saber por onde começar a olhar. Um dos pontos que mais chama a atenção, é a cúpula do teatro, com um imenso lustre e uma pintura circulando toda a iluminação. A pintura que hoje se encontra no teatro não é a original da primeira construção, pois essa se deteriorou nos anos 30 e foi substituída.

Escondido entre a pintura e o lustre, encontra-se um corredor para alguns membros da orquestra. É impossível perceber a existência dele, olhando-se da plateia mas é dali que saem alguns efeitos especiais para as apresentações, como por exemplo, o som de um trovão, vindo diretamente do alto do teatro.

Para garantir a boa qualidade acústica do teatro foram utilizados apenas materiais de qualidade; nos camarotes mais baixos os acabamentos são em materiais absorventes e nos mais altos em materiais rígidos, para adequar a acústica do espaço que é considerado um dos  5 melhores teatros do mundo quando o quesito é acústica.

Platéias superiores

Platéias superiores

O teatro fica na Av. 9 de Julho porém sua entrada mais majestosa fica na Praça General Lavalle. É possível chegar facilmente de ônibus ou metrô e mais informações sobre as visitas você encontra no próprio site do Teatro. Não é um passeio barato, mas achei que a visita valeu cada centavo!

Visitas guiadas: http://www.teatrocolon.org.ar/pt/visitas-guiadas-pt

Um pouco mais de história: http://www.teatrocolon.org.ar/pt/historia-pt

Paradoxos do nosso tempo

1 Jan

Acho que todo ano, quando vai se aproximando o fim de dezembro, nas revistas de grande circulação aparecem retrospectivas sobre como foram os últimos 12 meses, quais as perspectivas para os próximos e uma extensa análise tendenciosa de como esta indo a sociedade em que vivemos.

De uma maneira geral se expõe que mais uma vez as pessoas estão trabalhando demais, tendo tempo livre de menos e assim por diante.

Por que falo de tudo isso num blog de arquitetura? O blog surgiu num período de calmaria, onde eu tinha tempo suficiente pra me dedicar aos textos e postar com alguma frequência. Dai entramos no turbilhão de final de ano, a situação mudou completamente e eu passei a fazer parte da lista de pessoas que esquece coisas óbvias do dia a dia porque está trabalhando demais.

Foi assim em 2011, 2012, 2013 e promete ser assim nos próximos. É assim pra quem trabalha na área de incorporação, pra quem trabalha com projetos de residências unifamiliares, reformas, paisagismo, decoradores, projetistas de stands, designers de vitrines e praticamente todas as áreas da arquitetura e do urbanismo. (sem falar de outras profissões, claro!)

O final do ano é sempre um período de grande caos e muito trabalho. Metas precisam ser batidas, prazos precisam ser cumpridos, reformas precisam ser concluídas para as famílias passarem o natal na casa nova e as lojas precisam ser entregues para iniciarem as vendas ainda antes do natal. Todo mundo trabalha muito, quase como se o mundo fosse acabar com a chegada de 31/12.

Alguns sortudos descansam no período entre as festas de natal e ano novo, depois começa o mês de janeiro e entra tudo em câmera lenta, quase como de estivéssemos hibernando até que o ano começa “de verdade” após o carnaval.

Aí vem muito trabalho pela frente pra começar a correr atrás das novas metas e dos novos desafios. É uma profissão que exige gostar do que se faz, definitivamente.

2014 é ano de Copa do Mundo e Eleições presidenciais. Há aqueles que acreditam que será um ano lento no setor imobiliário, outros creem que teremos as mesmas metas e menos tempo para elas. Vamos esperar pra ver o que vem pela frente.

Ideias para o blog não faltam. Espero mesmo, poder escrever mais por aqui.

Feliz 2014 pra todos!

Certificação Leed

11 Nov

Quem é responsável pela certificação LEED no Brasil é a ONG Green Building Council (GBC-Brasil). Há diversos tipos de certificação que podem ser obtidas dependendo da edificação. Um mesmo selo não é aplicado em edifícios novos e em edifícios já construídos; ou edifícios residenciais e comerciais. Cada tipo de edificação terá seu selo específico.

leed

LEED significa ‘Leadership Energy and Environmental Design’ e é um sistema internacional para a certificação de edifícios. O selo já é aplicado em 143 países tanto em projetos, quanto em obras e operação dos edifícios. Os empreendimentos certificados, têm seus imóveis valorizados e com menor custo operacional. Em alguns casos é necessário capacitar os funcionários do edifício para lidar com alguns sistemas diferenciados utilizados. Nessas obras é comum vermos o uso racional de água, redução do consumo de energia elétrica, redução dos efeitos das mudanças climáticas e redução do volume de resíduos gerados (durante a obra e durante a ocupação do edifício).

Durante o processo de certificação, o projeto/edifício será avaliado em 7 categorias com pré-requisitos a serem atendidos, alguns dos quais são obrigatórios para a certificação. Cada critério avaliado garante certa quantidade de pontos que, somados no final, vão determinar o nível de certificação atingia na edificação. A pontuação pode variar entre 40 e 110 pontos.

As categorias avaliadas são: Espaço sustentável, Eficiência do uso da água, Energia e Atmosfera, Materiais e Recursos, Qualidade ambiental interna, Inovação e Processos e Critérios de Prioridade Regional.

Segundo dados do GBC, em 2003 76% do mercado imobiliário está apenas observando a movimentação da sustentabilidade no setor, enquanto apenas 13% das empresas efetivamente aplicavam ações sustentáveis na sua rotina diária e nos seus projetos. Hoje, temos 53% das empresas do mercado efetivamente engajadas na questão e resta apenas uma pequena fatia do mercado (6%) que ainda está apenas observando a situação se transformar. Em 2002 tínhamos apenas 8milhões de metros quadrados de construção certificados pelo mundo. Em 2008 esse cálculo já havia ultrapassado os 300milhões de m² certificados.

No Brasil, em 2009 ainda tínhamos apenas 200 unidades certificadas, mas esse número vem crescendo consideravelmente nos últimos anos. A maior fatia dos projetos certificados, está no mercado de empreendimentos comerciais, com mais de 70% dos processos em andamento.

Aqui vai uma lista de aguns projetos certificados em São Paulo: Plaza Mayor Alto da Lapa (Even Construtora), WTorre Nações Unidas 1 e 2 (Wtorre), Centro de Cultura Max Feffer (PPR Construtora), Panamerica Park II (Gafisa), Edifício Hospitalar Oswaldo Cruz (Racional Engenharia), Rochaverá Corporate Towers – Torre B (Método Engenharia), Eldorado Business Tower (Gafisa e Camargo Corrêa). Podemos falar mais sobre alguns deles em outros posts.

Projetos complementares

19 Out

O que são projetos complementares? Qualquer que seja a dimensão do prédio ou da casa que você vai construir, não basta apenas um projeto de arquitetura com paredes, portas e janelas para colocar a obra de pé. São vários os projetos complementares que você pode ter no seu planejamento, vou listar apenas alguns deles aqui.

Ar condicionado: cada vez mais clientes anseiam pelas maravilhas do ar condicionado. Para prédios comerciais ele é obrigatório e tem sido cada vez mais comum em residências. É dimensionada a quantidade ideal de máquinas para os ambientes que serão climatizados e projetadas as tubulações necessárias para atende-las.

Estrutura: saco vazio não para em pé. Obra sem estrutura também não. Você pode ter um projeto em estrutura convencional de concreto, alvenaria estrutura, lajes protendidas, vigas metálicas, e outras tantas opções. A estrutura a ser seguida será definida logo no início do projeto em função das condições do terreno e das premissas do empreiteiro.

Elétrica: sabe aquele quadro de luz que você tem escondido na sua cozinha? Ele faz parte do projeto de elétrica. Tudo que acontece com a eletricidade depois que ela sai do poste, até ela chegar na lâmpada do seu quarto deverá aparecer neste projeto. Quantidade de pontos de iluminação, tomadas, interruptores e a distribuição de tudo isso.

Hidráulica: banheiros, cozinha, lavanderia, terraços, piscina e áreas de jardim. Tudo isso precisa ter abastecimento de água (fria e quente) e coleta de esgoto. Até a gordura toda que você joga na pia da cozinha tem um caminho certo a seguir, que vai ser estudado pelos projetistas de hidráulica.

Fundação: se você construir todo o seu prédio em cima de um terreno de areia, ele não vai durar muito tempo de pé. Para segurar toda a carga do prédio/casa é necessário uma estrutura especial que ficará escondida embaixo da terra.
Decoração: um item opcional e cada vez mais característico pelo menos em SP. Cada vez mais o cliente final do imóvel contrata um(a) decorador para detalhar todos os ambientes, orientar melhores acabamentos, desenhar a parte de marcenaria e até desenvolver um projeto de luminotécnica.

Paisagismo: áreas externas e descobertas serão tratadas no projeto paisagístico. Quais e quantas árvores plantar, quais flores são mais indicadas para determinada área sombreada, qual grama crescerá melhor e exigirá menos manutenção, etc.
Automação: a tecnologia cada vez mais presente até nos apartamentos. Agora com um tablet é possível comandar o acendimento das luzes da sala, ajustar a altura da persiana da janela, ligar o som com uma música animada e pronto, só esperar os amigos chegarem pra festa.

Acústica: não é só quem tem bateristas e guitarristas em casa que precisa pensar em projetos de acústica. Algumas áreas técnicas dos edifícios emitem muito ruído (sala do gerador por exemplo) e dependendo de onde forem locadas, podem incomodar alguns moradores. Recentemente também foi validada a Norma de Desempenho para edificações que vai exigir que a construção barre uma certa quantidade dos ruídos vindos da rua, o que pode exigir alguma consultoria específica no assunto.

Alvenaria: fiquei bem surpresa quando descobri que existem escritórios que fazem somente projetos de alvenaria. Desenham parede por parede, todos os blocos que serão utilizados na obra. É chamado de ‘projeto de produção’ e visa entre outras coisas, evitar o desperdício de material na obra, já que todas as paredes já foram pensadas antes da execução. É quase como brincar de lego.
Isso tudo sem contar possíveis consultores contratados para os assuntos mais diferentes possíveis.
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Comprar um terreno e começar o projeto

16 Out

As incorporadoras e construtoras não saem pela cidade comprando terrenos sem antes fazer uma pesquisa. São feitas pesquisas de diversos tipos, para diagnosticar o que pode ser construído no local que vá garantir uma boa venda. Deve ser estudada a demanda do mercado e os lançamentos da concorrência. Depois que se descobre qual o produto que será bem recebido no terreno em estudo, podem ser iniciados dois processos meio que paralelos.

O primeiro deles é começar a estudar toda a parte de documentação do terreno para verificar se a compra é mesmo possível. Quando o terreno final será formado por diversos terrenos menores existentes (pequenas casas antigas que serão demolidas) é necessário checar a documentação de cada um dos imóveis, dos donos dos imóveis e as limitações que a lei impõe ao terreno. Um item muito importante é conferir se todas as certidões de débito dos terrenos estão mesmo negativas. Isso significa que não há dívidas em nome dos vendedores e no terreno; que os IPTUs por exemplo, estão todos pagos.

O segundo processo que se inicia já é o início do próprio projeto. Será escolhido um escritório de arquitetura que irá receber um briefing do que a construtora quer para o produto, e a partir daí iniciam-se os primeiros desenhos para definir o projeto. Essa fase de projeto pode ser chamada de estudo preliminar, ante-projeto, projeto básico, ou simplesmente estudo. O nome pode variar, mas é basicamente a fase de conceituação de tudo o que será desenvolvido dali pra frente neste terreno.

O estudo das leis que interferem no terreno e do produto que será lançado é muito importante para não se criar um mico, um projeto que não vai ter boa saída e ficará em dificuldade de venda. Outro ponto importante da análise do terreno é verificar qual a capacidade de construção que ele possui, para não começar a desenvolver um projeto muito maior do que o permitido pelas leis; não fazer o que os professores da faculdade gostam de chamar de ‘um peru no pires’.

Arquitetura e comércio: lojas de shopping

11 Out

​Existem escritórios de arquitetura especializados em projetos de lojas e restaurantes. Uma rede de lojas dificilmente terá um arquiteto diferente para cada loja da rede pois há uma linguagem a ser seguida por todas as lojas; cores específicas, detalhes especiais, materiais cuidadosamente pensados para a imagem que a loja deseja passar a seus clientes. Cada loja terá suas particularidades por conta do espaço físico alugado, mas esses serão os detalhes adaptados a cada caso específico de acordo com as necessidades do local.

É comum ver redes de lanchonete fast-food utilizando cores como vermelho e amarelo nas lojas, pois são cores que ‘dão fome’. Farmácias tendem a utilizar azul, verde e branco. Cafeterias utilizam muito marrom, vermelho e às vezes também o verde. No entanto, mesmo utilizando cores e tons parecidos cada rede de lojas será diferente da outra. Até mesmo quiosques de shopping, aqueles que ficam nos corredores, seguem uma mesma linguagem. Um quiosque de sorvetes do McDonalds irá seguir a mesma linguagem visual das lojas da rede.

Seguir a mesma linguagem não tem só a ver com a imagem que a empresa quer passar aos clientes, mas também com a identificação da marca. Você vai passear no shopping e consegue reconhecer certas lojas ao longe só pelas características da vitrine, do letreiro e das cores utilizadas. Às vezes a loja ainda está sendo reformada, mas já aparece algum detalhe de letreiro na vitrine, algum elemento, alguma cor e você já sabe dizer que loja nova vai inaugurar ali.

Roberto Burle Marx, paisagista

5 Out

​Roberto Burle Marx foi um conhecido artista plástico brasileiro, falecido em 1994 aos 84 anos de idade. Ficou conhecido mundialmente por exercer seu lado artístico como paisagista, especialmente pelo Rio de Janeiro. Nasceu em Recife, com mãe pianista e cantora o que contribuiu desde cedo para o desenvolvimento da sua veia artística. Mudou-se com a família para o RJ já em 1913 e quando tinha apenas 8 anos, já cultivava uma pequena coleção de mudas de plantas num casarão da família.

​Foi talvez por incentivo do vizinho Lúcio Costa que em 1930 ingressaria na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde acabaria por conhecer o colega Oscar Niemeyer. Um de seus primeiros projetos famosos foi em Recife, na Praça de Casa Forte. Ganhou notoriedade ao utilizar em seus projetos uma grande quantidade de plantas nativas brasileiras, visando combater os ‘jardins europeus’ que eram então usados nos projetos por aqui. Durante sua ocupação do cargo de Diretor de Parques e Jardins do Departamento de Arquitetura e Urbanismo de Pernambuco, foi que projetos os jardins do Edifício Gustavo Capanema, onde na época ficava o Ministério da Educação e Saúde.

​Outra característica muito marcante de seus projetos são as formas orgânicas com que planejava os espaços, sempre com curvas e criando áreas contemplativas. Chegou a fazer um projeto de paisagismo para o Parque do Ibirapuera em São Paulo, mas que não foi executado. Abaixo três fotos sobre o paisagista. Os jardins do Ed. Barão de Capanema, o Doodle do Google em homenagem a ele e os jardins de uma residência.

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